segunda-feira, 1 de junho de 2009

Psicóloga mexicana apresenta no Rio distúrbio que afeta 25% das mulheres


Uma pessoa muito responsável, afetuosa, que resolve todos os problemas do outro e evita conflitos. Por trás desses adjetivos pode estar um transtorno conhecido como codependência, que teve seu conceito ampliado pela psicóloga mexicana Gloria Noriega Gayol.

Ela apresentou seu estudo – que lhe rendeu o prêmio Eric Berne, em 2008, concedido pela International Transactional Analysis Association – durante o Congresso Brasileiro de Análise Transacional (Conbrat), no Rio.

Sua pesquisa com 830 mulheres em um centro de saúde no México revelou que a codependência – que antes estava ligada a pessoas que conviviam com alcoólicos e dependentes de drogas – também se apresenta quando há situações de estresse familiar ou social, como abandono, violência doméstica e perdas na infância, seja por morte ou separação dos pais ou de outro membro da família.

“A pessoa codependente é muito responsável, trabalhadora, que tem empatia, que gosta de ajudar os outros e resolve os problemas dos outros. Contudo, seu problema é que não vê seus próprios problemas, não atende suas próprias necessidades. Vive a vida atendendo as necessidades dos demais, mas não vê suas próprias necessidades”, explica Gloria.

“Então muitas vezes acaba fatigada, cansada, assoberbada, doente. Porque faz demais, enquanto a pessoa dependente faz de menos. A pessoa codependente pode ser muito carinhosa, muito afetuosa, mas não recebe o afeto que merece”.

A psicóloga, que é diretora do Instituto Mexicano de Análise Transacional, explica que são pessoas que não dependem de substâncias e sim de outras pessoas dependentes, absorvendo seus problemas. Esse distúrbio é mais comum nas relações de casal e afeta 25% das mulheres. Para se ter uma ideia, durante um de seus cursos no Rio, 50% das mulheres presentes se identificaram com o transtorno ao responder um teste que Gloria aplica para conhecer experiências que podem indicar sintomas de codependencia (veja o teste abaixo).



Segundo a psicóloga Danielle Tavares, que presidiu o congresso realizado em Botafogo, Zona Sul do Rio, o problema é mais comum no público feminino porque esse comportamento nas mulheres é valorizado em nossa sociedade.

“Os codependentes normalmente são pessoas doces, responsáveis, que se importam com o outro. Querem amenizar situações, manejar os conflitos, e isso é um tipo de coisa que acontece primordialmente com as mulheres. Por que? Porque esse tipo de comportamento, dentro da nossa cultura, é valorizado. Então a mulher tem uma maior predisposição em assumir um comportamento codependente”, explica Danielle.

Em geral são pessoas que tiveram que apressar seu crescimento e dar conta de tarefas que não eram próprias da sua idade. Com isso, começam a ter responsabilidades muito cedo e se acostumam a resolver problemas, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo.

“Dependentes são aqueles que não fazem a sua parte na relação. Os codependentes fazem a sua parte mais a parte do outro”, conta Danielle.
Padrões familiares
Ao ampliar o conceito de codependência, a psicóloga mexicana detectou determinados padrões familiares que facilitam que essa pessoa desenvolva o transtorno. Para a também psicóloga Neiva Schefer, que participou do congresso, o conceito é inovador.

“Nós tratamos muitas vezes o indivíduo focado na história de vida que ele tem, que ele nos narra, e muitas vezes sem dar conta de toda história de vida pessoal, familiar, que ele traz do passado dele para agora. A relação com o pai, com a mãe, que hoje faz com que as escolhas dele, a escolha do cônjuge, as opções que ele faz de vida sejam muito relacionadas com esse passado”, diz Neiva.

Para ela, perceber esses sintomas é um caminho para deixar de repetir esses modelos.

“Hoje nós estamos nos dando conta e podendo atuar em relação a isso. Porque é uma forma de ser das mulheres sem se dar conta. Elas repetem esse modelo, a avó, a mãe, a filha, e vão passando esse modelo, esse jeito de ser muitas vezes sem se dar conta e não podendo intervir em relação a isso”, explica.
Primeiro passo é aceitar o problema
Segundo Danielle Tavares, pessoas codependentes acabam se relacionando com parceiros abusadores, violentos ou com transtorno de personalidade, que não enxergam quem está ao seu lado.

“O codependente esquece das suas necessidades”.

Nesses casos, a terapia pode ajudar a pessoa a mudar esse padrão. O primeiro passo é aceitar que se tem um problema

“É um tipo de comportamento que se tem vergonha. Você aceita isso e começa a trabalhar terapeuticamente para mudar”, explica Danielle.

“Em análise transacional a gente acredita que, independentemente do que tenha acontecido com você na sua vida, você pode reaprender e mudar os padrões. A primeira coisa que se tem a fazer é aceitar que essa situação existe”.

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