domingo, 13 de setembro de 2009

'Quando se tem um filho morrendo, não há certo ou errado', diz Cameron Diaz


Em 'Uma prova de amor', ela interpreta mãe que sacrifica tudo pela filha.
Longa, que estreia neste final de semana, tem ainda Abigail Breslin.
Quem vai ficar com Mary?”, “Quero ser John Malcovich”, “As panteras” e até a ogra de “Shrek”. Quando se ouve falar em Cameron Diaz, a primeira coisa que vem à cabeça são os papéis cômicos, com toques de sensualidade e ação. Mas no drama “Uma prova de amor” – que chega neste final de semana às telas brasileiras -, a loirinha mostra que não é atriz de uma nota só.

O longa de Nick Cassavetes conta a história da família de Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patrick), que tem a vida transformada quando descobre que sua filha Kate tem leucemia. A única esperança deles é conceber outro filho, para que sua medula óssea possa então prorrogar a vida de Kate. Nasce assim Anna (Abigail Breslin, de "Pequena miss sunshine"), que por 13 anos é submetida a cirurgias e transfusões sanguíneas, até que um dia começa a questionar sua própria identidade e resolve tomar uma decisão que abala a sua família.

Assumindo o papel difícil da mãe que sacrifica quase tudo pela filha, Diaz viveu também o seu próprio drama durante as filmagens, quando seu pai morreu inesperadamente de pneumonia, aos 58 anos de idade. “Por um tempo fiquei em choque já que tudo aconteceu tão de repente e inesperadamente para a nossa família”, contou a atriz em conversa com jornalistas da qual o G1 participou. “Mas eu tinha que voltar ao trabalho e tive muita sorte em voltar para um grupo de pessoas maravilhosas que foram muito generosas e carinhosas comigo.”

Leia a seguir trechos da entrevista.

Pergunta - Você já interpretou personagens dramáticos no passado, mas seus maiores sucessos são as comédias. Você sente a necessidade de provar algo ao seu público? Gostaria de ser reconhecida também como uma atriz dramática?
Cameron Diaz - Não sei se pela maneira que fui criada, mas não me preocupo muito com que os outros pensam. Quer dizer, a aprovação do público não é o que me motiva. Escolhi fazer esse filme porque era um desafio para mim, Cameron, e eu queria saber se era algo que eu podia ou não fazer. A maneira que as pessoas me veem tem mais a ver com o fato de se elas conseguem se relacionar com o personagem. A exceção é o diretor. Acho a opinião dele importante, afinal somos parceiros na criação e desenvolvimento do filme. E se ele vem e diz que tem fé em mim, isso me basta. Fecho os olhos, confio cegamente e dou o melhor de mim. E, claro, espero que o público consiga se envolver com o personagem e se sentir conectado.

Pergunta- Câncer não é um tema fácil. Como foi a sua relação com a vida da personagem?
Diaz - Nick Cassavetes foi um grande apoio durante o trabalho de desenvolvimento da personagem. Ele me guiou e nos conversamos muito sobre o que é ser pai de uma criança doente, já que ele tem uma filha com um problema congênito no coração. E como eu disse, é um trabalho de colaboração e ele foi muito receptivo às minhas ideias de como interpretar Sara. Procurei entender ao máximo a experiência destas pessoas através dele e também de conversas que tive com pais e outras pessoas que passaram por isso.

Pergunta- Você viveu o que é considerado um pesadelo na vida de qualquer pai e mãe. Como isso te afetou emocionalmente?
Diaz - Se você me pergunta se a história me tocou, claro que sim. Mas Sara é uma personagem que não se deixa abater pela sua realidade, então esse detalhe me mantém um pouco protegida também de uma carga emocional muito forte. Mas ela era assim não por ser fria mas porque não tinha tempo para isso. Ela tinha que estar sempre forte, sempre ativa, lutando por ela e pela sua filha. Achava que se se abatasse por um minuto, se parasse de lutar, de amar sua filha, a menina morreria. Então ela não deixava essas coisas acontecerem e fez o que acreditava ser o melhor. Eu não sou mãe, mas sei o que é amar profundamente, e quando se ama alguém assim, fazemos de tudo pela pessoa amada. Mas como eu nunca estive na pele dela não me sinto nem capaz de julgá-la.

Pergunta - Mas ela usou a outra filha…
Diaz – Pois é, mas todas as pessoas com quem conversei, me disseram que quando se trata de um filho morrendo, não existe decisão certa ou errada. Você faz o melhor que pode. E foi isso que Sara fez. Ela resolveu ter a Anna, não por que ela queria uma filha para não amar ou para partir em pedaços. Acho que todas as mães acreditam nisso, que têm amor abundante para dar igualmente para todos os filhos. Infelizmente a realidade nestas famílias que têm crianças que precisam de uma atenção especial é um pouco diferente, porque a criança precisa de mais amor e atenção que as demais e isso causa o sacrifício de todos.


Pergunta – Como você vê a morte depois desse filme?
Diaz – A morte é a morte. Não é que a filha mudou para uma casa vizinha mas que pode voltar a encontrá-la. Ela se foi para sempre. E na morte de uma criança, o que ficam são as experiências e coisas que ela nunca teve chance de ter ou de fazer. E, para Sara, saber desta possibilidade, fez com que fizesse de tudo para manter sua filha viva. E acho que pensando assim, fica mais fácil de justificar as suas ações.

Pergunta- Você teme a morte ou aceita como parte natural do ciclo da vida?
Diaz - É algo que realmente a gente tem que aceitar. Quando perde alguém que ama a gente percebe que há certas coisas que não podemos mudar. E esse é o fim inevitável para todos nós. Acho que o quanto antes aceitarmos isso é melhor, pois a morte não é ruim para quem vai, mas para quem fica. As pessoas que morreram não estão mais sofrendo, sofrem as que ficam. E se aprendemos a aceitar a morte como parte da vida, acho que fica um pouco mais fácil de lidar.

Pergunta- Você perdeu o seu pai durante as filmagens deste filme. O que te deu forças para voltar e continuar a lidar com o drama da sua personagem?
Diaz - Por um tempo fiquei em choque já que tudo aconteceu tão de repente e inesperadamente para a nossa família. Mas eu tinha que voltar ao trabalho, tinha mesmo. Não era uma escolha. Mas tive muita, mas muita sorte mesmo em voltar para um grupo de pessoas maravilhosas que foram muito generosas e carinhosas comigo. O pai do Nick faleceu com a mesma idade que meu pai, então ele sabia como eu estava me sentindo. E recebi muito apoio também das meninas, Abbie e Sofia. A força delas que você vê na tela é tão forte quanto na vida real.

Pergunta - Você chegou a mencionar em entrevistas anteriores a sua vontade de construir uma família própria. Ainda pensa nisso ou já não mais?
Diaz - Eu tenho tido uma vida bem consistente na maneira em que deixo as coisas acontecerem naturalmente sem forçar nada. Não me preocupo muito. Eu me considero uma pessoa de muita sorte e sou agradecida por todas as experiências pelas quais passei. Acho que tenho uma vida maravilhosa, uma família maravilhosa, que sou amada. Se ter filhos é algo que vai acontecer na minha vida, será algo muito bem-vindo. Se não, quer dizer que não era para ser.

Pergunta - Conforme vai ficando mais velha, você espera mais ou menos dos seus relacionamentos?
Diaz - Acho que em todos os relacionamentos, quanto mais você se conhece, mais fácil fica. Quando você olha para trás e lembra das coisas que seu pais fizeram quando tinham a sua idade, e como criaram os filhos, você pensa como foi que eles conseguiram? Acha que eles são super-heróis por fazerem algo que você nem saberia por onde começar. Aí, ao passar dos anos, você vai amadurecendo e percebendo que seus pais são humanos e que cometem erros também e que isso faz parte da vida e do aprendizado. Quando você chega ao ponto de entender isso, tudo fica mais fácil. Fica mais fácil a convivência com si mesma e com os demais. Acho que uma das nossas lições na vida é aceitar que somos humanos e deixar que os outros sejam também, e que às vezes erramos e às vezes acertamos. E seja em qual for o relacionamento é importante também perdoar.

Pergunta - Você está muito envolvida com os temas ambientais. Quais são suas principais preocupações?
Diaz - Eu vejo o tema ambiental de diferentes maneiras. Eu nunca fui do tipo, vamos salvar o urso polar, ou ficar defendendo uma ou outra espécie de animal. Eu acho que a gente tem que salvar é o planeta. Se as coisas continuarem como estão, não vamos ter muito mais tempo. Eu estou falando da nossa geração mesmo. Para viver aqui todos nós precisamos das mesmas coisas básicas, ar, água e comida e isso vem da terra. É importante que tudo seja extraído de maneira correta para não esgotar o planeta. Sabe, o filme é um exemplo perfeito disso. Hoje em dia, câncer é uma doença com crescimento impressionante. Todo mundo conhece alguém que teve câncer. Nao era assim há trinta anos. E além de focar nos tratamentos, temos que descobrir o que causa e como preveni-lo. É assim com o planeta, algo que todos nós temos em comum. Não importa se você é rico, famoso ou o que for, ninguém pode viver sem essas três coisas básicas. Portanto temos que trabalhar em conjunto no nosso dia-a-dia, desde as coisas mais simples até as mais complexas para salvar o planeta. E isso tem que ser feito já.

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