quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Moda e estilo dos anos 80 estão de volta (de novo)
Será que estou ouvindo um eco, quando escuto as pessoas dizendo que os anos 80 estão de volta? Seis meses atrás, as passarelas de Nova York, Paris e Milão pressagiaram um retorno a uma era que alguns de nós recordam com pouco apreço e que muitas pessoas são jovens demais para recordar com qualquer que seja o sentimento.
Nomes da moda tão diferenciados quanto Gucci, Givenchy, Ungaro, Gianfranco Ferre, Gareth Pugh, Proenza Schouler e Marc Jacobs, tanto para sua grife quanto em sua coleção para a Louis Vuitton, começaram a roubar referências (ou, se você prefere termo mais polido, prestar homenagem) àquela era maldita de grandes enchimentos nos ombros, cores em néon saturado, meias arrastão, paletós gigantes e malha metálica.
Agora que esses produtos estão chegando às lojas, os consumidores não conseguirão evitar flashbacks ¿ pelo menos aqueles que tiverem memórias diretas de bandas como Adam and the Ants ou Culture Club, filmes como "Working Girl" ou, aliás, dos anos Reagan na Casa Branca.
"Quem quer que tenha experiência superior a cinco anos no mundo da moda", escreveu certa vez Amy Spindler, então crítica de moda do The New York Times, "pode estar sentindo sensação semelhante à de um homem a ponto de se afogar que vê a vida passar rapidamente diante de seus olhos". Spindler estava se referindo à maneira perturbadoramente rápida que a moda encontra de reciclar o passado recente.
A declaração foi feita muito tempo atrás, em 1996, quando a arqueologia da moda ainda precisava ser conduzida em bagunçadas lojas de roupas de segunda mão, nas bancas de roupas usadas de instituições de caridade ou nas páginas de revistas antigas encontradas no sebo operado pelo livreiro Michael Gallagher no East Village, onde estilistas como Marc Jacobs escavaram algumas de suas melhores ideias por meio de consultas às páginas de edições antigas de "Vogue".
Agora todos sabemos que o ritmo da apropriação indébita se acelerou ao ponto de mal permitir que o homem da metáfora acima piscasse um olho antes de submergir.
"As pessoas aderem muito rapidamente às coisas", disse Laura Wills, que, como proprietária da Screaming Mimi's, uma loja de roupas vintage, dedicou três décadas a antecipar que estilo será o próximo a ser retomado no cenário cultural. "Eles se movimentam tão rápido que precisam constantemente de novas referências. Na loja, costumamos dar risada e comentar que os anos 80 já foram revividos antes, e que esse retorno das roupas néon já aconteceu uma vez, cinco anos atrás".
A verdade é que sim, já aconteceu de fato. Tivemos o retorno de "Flashdance", aquela influente bobagem cinematográfica, e da moda que o filme oferecia, por volta da metade dos anos 90, quando os estilistas Roger Padilha e Jennifer Groves exibiram uma coleção de moda que prestava uma carinhosa homenagem aos leggings, coletes com franjas e camisas de ombros caídos usados por Jennifer Beals. Tivemos também o retorno da combinação entre luvas de renda e crucifixo que Madonna usava na era "Like a Virgin", em toda forma de apresentação, e em modelos propiciados por estilistas que pouco tinham em comum entre si, como Betsey Johnson e Jean-Paul Gaultier.
Tivemos a volta das calças com cós rebaixado inevitavelmente associadas a MC Hammer, primeiro reinterpretadas por Rick Owens e posteriormente pelos muitos imitadores desse estilista. O estilo se tornou tão comum que, de roupa a ser evitada a todo custo, terminou se transformando em peça obrigatória.
"Muitas dessas tendências estão ensaiando voltar há algum tempo ¿os leggings, os ombros com enchimento extra, o néon", diz Chioma Nnadi, editora de estilo da revista "Fader". "Na verdade, é uma moda que oferece escapismo às pessoas". E, não incidentalmente, também permite exercitar o humor que pode ser exaltado em tempos difíceis pelo desafio às convenções do bom gosto, do gosto convencional. "Parte do que vem sendo revivido é bem brega", diz Nnadi. "Mas existem ocasiões em que o mau gosto oferece mais espaço para a diversão e para a criatividade".
Transformar calças com o cós rebaixado em "algo de fabuloso", como ela diz, pode ser visto como um gesto positivo, e além disso portador de linhagem que remonta a uma era ainda mais antiga e menos conformista, aquela que viu a publicação do livro Notes on Camp.
De certa forma, a retomada dos anos 80 é cafona para pessoas que nunca ouviram falar do livro de Susan Sontag, e o mais recente ciclo da moda representa uma oportunidade, para a nova geração de estilistas, de encontrar naquela década de gosto dúbio uma vasta jazida de ironia a ser explorada.
Os seriados "Dallas" e "Cosby Show", as bonecas Cabbage Patch e a princesa Diana (cujo estilo a escritora Germaine Greer comparou no ano passado ao de uma apresentadora de TV, mas agravado por chapéus horrorosos e inevitáveis) tudo isso surgiu nos anos 80. O mesmo se aplica, em um sentido indelével para a cultura pop, Brooke Shields, em sua fase de "não existe nada entre mim e meus jeans Calvin Klein".
Michael Jackson, que no passado foi um dos grandes companheiros de Shields, sem dúvida se provou o mais irresistível fenômeno de cultura pop a emergir dos anos 80, e por isso é lógico que o guarda-roupa que ele popularizou no videoclipe de "Thriller" tenha sido imitado pelos formadores de opinião na moda ainda antes de sua morte, em junho.
"Todo mundo está se inspirando em Thiller já há algum tempo", disse Wills, da Screaming Mimi's. "Já vimos o retorno da jaqueta de couro com tachinhas". E, quando o final do ano se aproximar, ela diz, "vai ser essa a peça que todo mundo estará procurando".
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