segunda-feira, 25 de maio de 2009

A intimidade de Dilma


Ontem, conversando com uma amiga no telefone, falávamos sobre o tratamento da ministra Dilma Roussef e sua relevância política. Hoje, ela saiu do hospital e disse que está usando peruca para esconder os cabelos ralos, consequência da quimioterapia. Lembrei de um texto que escrevi sobre ela há uns dois meses. Entrevistei alguns parentes e pessoas próximas para preparar a entrevista que fiz com a ministra para a edição de aniversário da revista Marie Claire do mês de abril. Não chega a ser um perfil, não conversei com os inimigos dela. Tenta apenas saber um pouco mais sobre sua história pessoal. Abaixo.
Economista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, Dilma Rousseff fez história na militância política. Entrou para o movimento estudantil aos 15 anos e aos 19 para a clandestinidade. Era uma das líderes de duas importantes organizações da esquerda radical brasileira no final dos anos 60 e começo dos 70, o Colina e a VAR-Palmares. Fez treinamentos de guerrilha, aprendeu a montar e desmontar fuzis, mas nunca trocou tiros com soldados do Exército ou policiais militares. Ela diz que seu trabalho como guerrilheira era o de conceber as ações do grupo para trazer informações.
Foi nesse período que conheceu seu primeiro marido, o jornalista Claudio Galeno. O casamento durou dois anos e foi ela quem pediu a separação porque ele teria viajado para Cuba sem consultá-la. Foi presa em 1970 e ficou três anos na cadeia de Tiradentes, em São Paulo. Lá, diz que lia muito - quase toda obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski -, estudava teoria econômica e dava aulas. Segundo uma ex-companheira de cadeia, as explanações de Dilma ficaram tão famosas que teriam chamado a atenção do marxista Caio Prado Jr - cujo pensamento influenciou o movimento estudantil daquela época -, que estava na ala masculina do presídio. Quando ele ficou sabendo que a “professora de economia” tinha cerca de 20 anos, ficou espantado. “Que nível, que estatura! Não a conheço, mas ela será muito importante para o Brasil se prosseguir assim”, teria dito ele. Outra fama da ministra na cadeia era a de boa jogadora de cartas.
Pouco antes de ser presa, Dilma casou-se com o advogado gaúcho Carlos Araújo, também ligado à militância. Quando ambos estavam em liberdade, se mudaram para Porto Alegre, cidade natal de Araújo, onde fizeram carreira política no PDT. Lá, Dilma foi secretária do governo gaúcho, o que lhe garantiu seu primeiro posto no governo Lula, no ministério de Minas e Energia, ainda em 2003. Tiveram uma filha, a advogada Paula, hoje com 30 anos. O casamento durou quase 30 anos. “Acho que acabou no começo dos anos 2000. Não lembro direito. Pode pôr essa data aí que você não erra”, diz Araújo. O irmão de Dilma, Igor Rousseff, também não se lembra do ano em que o casamento da irmã terminou. “Eles continuaram tão amigos que eu só fiquei sabendo muito tempo depois que eles tinham se separado”, diz.
O fim do casamento deflagrou um período conturbado na vida de Dilma, mas que ela diz ter durado apenas alguns meses. “Separação sempre é difícil”, diz a ministra. “É o luto, e dói, uai”. Hoje, ela diz ter uma relação boa com o ex. Até passam os Natais juntos em Porto Alegre. Dilma diz que se prepara para ser avó. Afirma que não se sente solitária pelo fato de não ter um namorado ou marido. Mas afirma, enfática, que não se sente sozinha. “Ficamos sozinhas aos 30, não aos 60″, disse, na entrevista que nos concedeu à Marie Claire.
A história de Dilma também é marcada pela dor. Quando foi presa, aos 19 anos, passou pela palmatória, pelo pau-de-arara e levou choques dos torturadores no corpo todo, inclusive nos bicos dos seios. Chegou a ter uma hemorragia interna. Mesmo sofrendo uma violência brutal, não passou informações estratégicas sobre seus iguais para os militares. “Foi ali que aprendi a conhecer meus limites”, disse Dilma. “Me achava uma heroína até ser presa”. De lá, saiu para lutar pela democracia e continuou a fazer oposição ao governo militar. Quando lembra dos tempos de tortura e dos colegas que perdeu nesse período, a ministra costuma se emocionar. “Conheço a Dilma há 40 anos e só vi ela chorar em homenagens aos companheiros que se foram ou quando fala sobre a cadeia”, diz Fernando Pimentel, ex-prefeito de BH, amigo pessoal da ministra e provável articulador da campanha dela para a presidência.
Ele conta que seu pai e a mãe de Dilma se tornaram muito amigos nos tempos em que ambos estiveram presos. Naquele período, a mãe da ministra teria virado evangélica por influência do pai dele. Os doces e tortas que ela levava para a filha na cadeia também ficaram famosos entre as ex-companheiras de cela. “Todo mundo esperava o dia em que a Dilma ia receber a visita da mãe”, diz uma outra ex-colega de cela que também não quer divulgar seu nome.
O pai de Dilma, Pedro Rousseff, advogado, búlgaro naturalizado e comunista, morreu de diabetes quando ela tinha 15 anos. “Eu tinha uma ligação muito forte com ele”, diz Dilma. “Papai era um gringo alto, de 1,90, loiro dos olhos azuis, muito generoso e bonachão. Era um homem que gostava de aproveitar a vida. Comia em excesso, bebia quando era proibido pelos médicos. Por isso, morreu de várias coisas, mas seus problemas começaram com uma diabetes”, conta Igor, o primogênito. Em 1977, quando Dilma tinha 30 anos, perdeu a irmã mais nova, Zana, de uma forma trágica. “Ela pegou uma infecção numa cesariana de gêmeos, em que só um sobreviveu. Ficou um período bem, aparentemente estava curada, mas o vírus ficou incubado. Um ano depois, a doença voltou e ela faleceu deixando um filho pequeno. As duas perdas abalaram muito nossa família”, diz Igor.
Hoje, Dilma vive em um casarão em Brasília, com o cachorro que herdou do ex-ministro José Dirceu junto com o posto de ministra da Casa Civil. Faz caminhadas pelas manhãs sempre que pode. Faz dieta . Perdeu mais de 14 quilos desde que se mudou para Brasília. Seu dia a dia é de executiva. Nos fins de semana, recebe visitas da filha. Também vai a Porto Alegre vê-la, e a Belo Horizonte, visitar a mãe

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