terça-feira, 28 de abril de 2009
Eu perdoei uma traição
É possível superar a infidelidade e resgatar a relação depois que a confiança foi abalada? Mulheres que apostaram no perdão contam sua experiência e terapeutas de casais comentam o tema, que pode dinamitar – ou dinamizar – a vida a dois
Iracy Paulina
Traição e perdão parecem duas palavras impossíveis de conciliar. “Descobrir que há uma terceira pessoa a bordo é uma dor terrível, atinge você no íntimo”, diz a terapeuta Regina Vaz, autora do livro VAMOS DISCUTIR A RELAÇÃO? (ED. PLANETA). No primeiro momento, parece inadmissível perdoar. Mas muitas mulheres descobrem que, depois da tem pestade, é possível continuar navegando juntos – sem a passageira indesejável, claro. É verdade que tudo depende das circunstâncias, explica a terapeuta de casais Marian Helena Matarazzo, autora do livro ENCONTROS, DESENCONTROS & REENCONTROS (ED. GENTE). “Casos passageiros causam menos estragos e são mais fáceis de perdoar do que aqueles mais longos, que pressupõem envolvimento emocional”, diz. Segundo ela, o impacto de perceber que o parceiro se apaixonou por outra é tão profundo porque não temos a mesma capacidade que o homem de compartimentar as coisas. Ele coloca o trabalho numa caixinha, a família em outra, a amante numa terceira. Já para a mulher, um envolvimento emocional exclui o outro: se ele se apaixonou pela amante é porque o amor pela esposa acabou. “As reações a uma traição também são influenciadas por outros fatores, como a idade, a maturidade emocional, a fase em que está a relação e até os interesses materiais em jogo”, completa a terapeuta. Para a psicóloga Maura de Albanese, diretora do Instituto de Psicologia Avançada, em São Paulo, não se pode jogar a razão para escanteio. “Só perdoamos quando compreendemos a situação. É um processo intelectual, não tem nada de emocional. A mulher que perdoa entende o que o marido fez e onde ela também errou”, diz Maura. Sem isso, não há perdão verdadeiro, cria-se apenas uma situação de barganha. “Ela perdoa da boca para fora, mas na primeira oportunidade tira proveito da situação, faz exigências, porque agora ela tem um trunfo na mão.”
Quando existe um desejo sincero – da mulher e do homem – de preservar a relação, a infidelidade acaba abrindo portas para o diálogo e para um novo pacto, para o recasamento. Às vezes, é necessário recorrer à ajuda de uma terapia de casal. Para Maria Helena, no início do tratamento os dois precisam colocar para fora tudo o que está estragado, os sapos engolidos. Só depois dessa faxina emocional dá para pensar na reconstrução.
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