segunda-feira, 20 de abril de 2009

A vaidade Feminina


Para os olhos delas

Tirando as Amélias uma espécie, aliás, em franco processo de mutação toda mulher que se preza não vive sem a sua vaidade. Para os homens, pode parecer felicidade barata mas, para as mulheres, que sabem o quão caro é o custo disso, um dia de sorriso garantido é aquele em que a pele amanhece perfeita, os cabelos dispostos a colaborarem e o guarda-roupa recheado de peças que parecem ter sido desenhadas sob medida. Mas quem pensa que a tradicional produção visual feminina visa encantar os olhares masculinos, engana-se. É claro que, nessa história, há uma boa dose de síndrome de pavão, que se enfeita para atrair o sexo oposto, e também um pouco de satisfação pessoal. Mas o que atormenta a maioria das mulheres naqueles dias de camiseta, calça de moleton e rabinho de cavalo é a própria opinião feminina. Como boas representantes da espécie, elas sabem que o mundo é uma arena de leoas, todas de olho vivo para condenar sapatos mal escolhidos, maquiagens borradas e outros deslizes da concorrência.

A advogada Juliana Grillo assume que, quando abre o armário, é com a opinião das outras que se preocupa na hora de escolher a roupa. Eu me visto para as mulheres, confesso. Nós somos muito cruéis, não deixamos passar nada. Nem os homens são tão exigentes, acredita. Academia de ginástica é o melhor lugar para comprovar isso. Aquele bando de mulheres reparando se você usa a mesma malha todo dia, se você muda sempre. É um julgamento constante, diz ela. Da mesma maneira, a bartender Branca Carvalho confessa que marca duro na avaliação das colegas de trabalho. Na boate onde eu trabalho, somos mais oito mulheres. Eu reparo mesmo e comento com as outras. Mas, pelo menos, sou justa. Quando vem alguma mais bem arrumadinha, faço questão de elogiar, diz ela. Mesmo que tal generosidade seja, na verdade, uma espécie de inveja velada. É um horror. No fundo, fico me roendo em perceber que tem alguém mais bonita do que eu. É uma competição mesmo. Homem não repara se o cinto está combinando com o sapato ou se você repetiu a mesma calça a semana inteira, comenta ela.

E não reparam mesmo. Basta uma rápida pesquisa para comprovar que, quando passa uma mulher, há, para os homens, outros apetrechos mais interessantes a serem observados do que a produção fashion. A gente olha primeiro pro corpo, pro rosto, ninguém fica reparando em sapato. Pode até reparar, mas não comenta, senão já viu... fica mal falado, garante o economista Bernardo Morzira. Para ele, para agradar os homens, basta que a mulher apenas aposte nas peças que realcem, digamos, suas bênçãos naturais. Quando coloca uma blusinha mais decotada, uma calça mais justa, aí a galera repara e gosta. Não importa a cor, se está combinando com a saia, ou qualquer coisa assim. Desde que esteja valorizando coisas boas, se a roupa for curta e justinha, já faz a alegria da garotada, garante.

Como bom membro da espécie, a psicóloga Olga Inês Tessari também assume que se veste para os olhos das outras mulheres. Toda mulher é assim, de certa forma. Isso acontece porque ela quer que as outras a vejam como a mais bonita, a mais gostosa, a mais mais, comenta. Isso é apenas mais uma manifestação daquela antiga e polêmica história: a concorrência feminina. Repare só: junta-se um grupo de mulheres para comentar sobre como um rapaz é bonito, interessante, bom partido. Talvez elas não saibam, mas o que faz essa reunião é o desejo de conquistar o mesmo rapaz e valorizar essa conquista, embora não revelem essa vontade para a outra. O mesmo acontece com a roupa. Na maioria dos casos, é uma necessidade de compensação da auto-estima, como o carro é para o homem, compara ela. Difícil essa vida de mulher: se arrumar para elas, se despir para eles.

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